terça-feira, 30 de janeiro de 2018

correspondências

     querida D.,

     quando passares à minha porta, por debaixo da janela do meu quarto, no lado de cá da rua ou para lá, no outro passeio, se ouvires esta canção, sabe que a pus a tocar no gira-discos que se encontra pousado no peitoril dessa janela, aberta a metade para que ao passares e se passares, sintas a corrente de ar que envias em troca da musicalidade que escolhi para sempre e para ti.

     teu A.




segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Dolores Mary O'Riordan


     

     foi num inverno bastante chuvoso aquele em que descobri os meus anos melhores a partir dos quais o mundo me mostrou que viver era muito menos infantil e que não era nada pior conhecê-lo assim. foi um inverno de rigor esse em que assumi uma cisão entre o velho e o novo e determinei interiormente a minha mudança. foi inclusivamente num inverno de passagem de ano sem avançar que ano foi esse bem vivo e preservado na minha memória. não há nostalgia nenhuma da época mas sempre haverá canções que me avivam a descoberta desses anos melhores a durar até hoje.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018


Love me, love me, love me, say you do
Let me fly away with you
For my love is like the wind, and wild is the wind
Wild is the wind
Give me more than one caress, satisfy this hungriness
Let the wind blow through your heart
For wild is the wind, wild is the wind
You touch me
I hear the sound of mandolins
You kiss me
With your kiss my life begins
You're spring to me, all things to me
Don't you know, you're life itself!
Like the leaf clings to the tree
Oh, my darling, cling to me
For we're like creatures of the wind, and wild is the wind
Wild is the wind
You touch me
I hear the sound of mandolins
You kiss me
With your kiss my life begins
You're spring to me, all things to me
Don't you know, you're life itself!
Like the leaf clings to the tree
Oh, my darling, cling to me
For we're like creatures of the wind, and wild is the wind
Wild is the wind

domingo, 10 de dezembro de 2017

a mulher que muito ama nunca morre de paixão

"Hino à Vida

Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.



Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.
Com toda força te abraço!

Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.

Ser! Pensar milénios!

Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar
Muito bem: dai-me teu tormento."

Lou Andreas-Salomé. 1861-1937



sexta-feira, 10 de novembro de 2017







por ti volto não volto.

por ti hei-de voltar sempre.

por mim todas essas voltas serão sempre meias voltas insatisfatórias e inconsequentes, preguiças no assumir do pensamento, atrozes no sentimento que se pressente.

por ti tudo o mais é quase nada na dura imaginação.

por mim e porque o segundo não apaga o que o presente

relançou nesta fraqueza aquilo que, por certo, se mente

essas voltas não são mais as voltas

que todo o inverno consente.


releio tudo de tempo a tempo.


Marraquexe, 04 de novembro de 2017






quinta-feira, 27 de abril de 2017

em todas as ruas te encontro




Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, "Pena capital"